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O trauma e a criança ferida do adulto

  • Foto do escritor: Sheila Antony
    Sheila Antony
  • 2 de set. de 2023
  • 2 min de leitura

Trauma é o registro emocional no corpo, no organismo e no cerébro, carregado de dor e sofrimento, proveniente de acontecimentos psicológicos ocorridos entre a pessoa, o outro e/ou o ambiente. São feridas emocionais fixadas na memória afetiva com imagens, sensações, pensamentos, ações. O trauma pode se originar de violência física, psicológica, sexual; de abandono; de negligência parental; de pais extremamente rígidos; de convivência em ambientes familiares hostis, intolerantes, instáveis. Pessoas traumatizadas podem desenvolver doenças cardíacas e pulmonares, câncer, diabetes, obesidade, alcoolismo, depressão, ansiedade, tabagismo. A alta pressão e exigência dos pais pode levar às drogas e criar a crença na criança de "nunca ser boa o suficiente". Por trás de um vício, há um trauma a ser reconhecido e entendido. Quando o trauma ocorre na infância, pode haver prejuízo no desenvolvimento emocional, motor, cognitivo, social, aumentando as chances de a criança adotar comportamentos de alto risco. A falta de amor pode levar a relacionamentos abusivos devido a necessidade de agradar aos outros, ao medo da rejeição e do desamparo, a sentimentos de insegurança e desconfiança em si e no outro. Portanto, onde há trauma, há cisão na personalidade e entre o corpo e a mente. O trauma tem em seu centro sentimentos de desamparo, não pertencimento e solidão. O trauma na infância cria a criança ferida que o adulto carrega consigo por toda a vida. Sempre que um adulto reage emocionalmente de maneira exagerada, com descontrole, diante de um fato (gritando, chorando compulsivamente, silenciando, agredindo fisicamente ou verbalmente) é a sua criança ferida se manifestando porque a ferida foi aberta. Pais que não reconhecem a sua criança ferida/traumatizada delegam aos seus filhos a sua ferida, projetando neles os seus conflitos infantis não resolvidos. A dor guia o comportamento. O trauma é transgeracional, é passado de geração a geração, até que seja reconhecido, aceito e elaborado. Caso o individuo não tome consciência do trauma, serão formados sintomas, distúrbios psicológicos e transtornos mentais. O caminho da cura é o terapeuta oferecer experiências de segurança e de suporte para que seja resgatado o próprio autossuporte, o autocuidado, o amor próprio, o autoperdão, o sentimento de merecer a vida e, assim, conseguir atribuir novos significados ao trauma vivido. Há que se encarar a dor, confrontar o fato, não temer a verdade! E seguir o pensamento de Nietzche que afirma: "Aquilo que não me mata, me fortalece!"


* Trecho extraído do capítulo "O atendimento aos pais na psicoterapia da criança: descobrindo a criança interior ferida", do livro A Clínica Gestáltica com Casais e Famílias: caminhos do diálogo.

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