Live: Transtornos emocionais na infância em tempos de pandemia
- Sheila Antony
- 17 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
Tempo de isolamento, de não aglomeração, de uso de máscara (ocultação parcial do rosto), que se traduz em perda da liberdade e da identidade social e pessoal. Nesse tempo descobrimos e constatamos que a liberdade é o maior tesouro do ser humano; que a perda da liberdade é seu maior sofrimento, pois traz restrição do movimento do corpo, perda da livre escolha de ir e vir, proibição do encontro com pessoas significativas, o impedimento de celebrar datas importantes e, assim, a separação daqueles que amamos.
Onde há separação, há sentimento de perda, o que suscita tristeza e angústia. Junto com a separação social, há as notícias de adoecimento, morte, perda de emprego, de fonte de renda, causando um sentimento de luto não consciente, uma angústia gritante diante da possibilidade da morte, da fome, do sofrimento. Esse está sendo o mundo onírico do adulto repleto de imagens trágicas e aterrorizantes, inundado de sentimentos de medo, raiva, tristeza, ansiedade.
Esse mundo psíquico do adulto contrapõe-se drasticamente ao mundo onírico da criança, cheio de magia, encantamento pela vida, uma vez que o espírito infantil é o da alegria, da excitação, do prazer, do desejo.O mundo da criança é brincar, buscar diversão. A perda da liberdade, do movimento físico para a criança é muito mais prejudicial à saúde emocional do que para o adulto, porque o corpo é meio de descarga de tensão emocional e excitação. A criança necessita movimentar o corpo para livrar-se das tensões vividas no ambiente. O corpo é meio de expressão emocional, de autoconhecimento, de conhecimento do mundo, de aprendizagem de conceitos, de reconhecimento da diferenciação entre o eu e o outro. O corpo é lugar das somatizações. Quanto menor a criança mais ela somatiza o sofrimento psíquico por não ter ainda a capacidade de elaborar as vivências emocionais.
QUANDO UMA CRIANÇA ADOECE OU ESTÁ ADOECIDA? Quando se vê impedida de expressar espontaneamente seus sentimentos, pensamentos e ações; quando passa a ter necessidade de atender as vontades e necessidades dos pais, priorizando a necessidade alheia em detrimento da própria (ser obediente, boa, submissa, passiva); quando começa a ter comportamentos fixados, resultantes de ideias e pensamentos rígidos (agressividade, irritabilidade, fobia, insônia, pesadelo, enurese noturna, restrição alimentar).
No adoecimento surgem pensamentos ruins, sentimentos desagradáveis sobre si que levam a ações autodestrutivas, autocondenatórias (baixa autoestima e pobre autoconceito). A criança adoecida tem um eu reprimido e confuso, repleto de defesas contra um ambiente invasivo, incompreensivo, intolerante, negligente, excessivamente protetor (mãe ansiosa, insegura; pai violento, autoritário e controlador).
Nesses tempos de pandemia vejo crianças deprimidas, ansiosas, estressadas, agressivas, com problemas de sono e alimentação, com condutas regredidas.
O QUE FAZER?
O estado emocional da criança depende do estado emocional dos pais. Se os pais estão com muito medo de morrer, se estão se isolando com excessivamente, mantendo a si e os filhos aprisionados em casa com poucos momentos de lazer, as crianças e adolescentes apresentarão problemas comportamentais e emocionais, como os acima citados. É necessário que os pais brinquem dentro de casa com os filhos, ao menos por 20minutos, com uma presença atenta e afetuosa, sendo capaz de olhar e ver o filho, escutar e ouvir o que lhe diz e pede (jogos cognitivos, leituras, música, dança, assistir filmes e seriados juntos, preparar as refeições juntos). Acompanhar a criança em áreas externas para ela poder correr, gritar, pular, andar de bicicleta ou patinete ou skate e, desse modo, o corpo libere as tensões e ansiedades. Pais seguros e otimistas

transmitem segurança e confiança aos filhos.
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