A família é o tu imperativo
- Sheila Antony
- 18 de jun. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 19 de jun. de 2023
O sistema familiar é essencial na formação do senso de pertencimento, da consciência do lugar de cada um, da personalidade, do sentido de vida, inclusive dos conflitos a serem vividos na vida de relações. As experiências emocionais e afetivas darão o tom dos conflitos (saudáveis ou não). Nossa identidade depende do campo a que pertencemos e com quem nos identificamos. Quando alguém sente que pertence a alguém e que alguém lhe pertence, não virá a se sentir desconectado do mundo, não experimentará o vazio existencial dos rejeitados, nem se sentirá perdido quanto ao seu destino e valor. Se algum dos pais não aceita o filho em sua individualidade, se age com intolerância e hostilidade, se é omisso na relação com o filho, se abandona a família, se comete violência sexual ou física, o sentimento de pertencimento e de autoestima entram em colapso, abalando profundamente o sentido de vida e a força do eu. Como adulto carregará intensos sentimentos de revolta, ódio, tristeza e fracasso que poderão levá-lo a se excluir da família e do mundo ou, senão, de excluir o pai ou a mãe, retirando-o de sua vida emocional. O ponto é: se há exclusão em uma família, se há rejeição de algum membro (quer seja por questões de homossexualidade, alcoolismo, dependência química, doença mental, deficiência intelectual), a necessidade de ser incluído, aceito, compreendido, permanecerá ao longo de gerações, até que essa condição seja resolvida, podendo criar sintomas e distúrbios que serão transmitidos aos membros sucessivos. "Quem combate o próprio pai se tornará forçosamente semelhante a ele. Quem combate a mãe se tornará forçosamente semelhante a ela" (Hellinger). Quem não ama a pessoa que o pai é e a pessoa que a mãe é não consegue amar o outro de forma saudável e plena. Ou ainda, o pai e a mãe que não amam o filho que tem, não sentiram o amor legítimo e incondicional dos próprios pais. O excluído sofre e se dissocia. "O que se exclui, retorna! O que se aceita, liberta e cura" (Koziner). O que resta é perdoar. E perdoar os pais é juntar as forças polares do amor e do ódio, do bem e do mal dentro de si para trazer integração, unificação, o fortalecimento do eu. Perdoar é reconhecer as limitações, insuficiências e deficiências dos pais. Perdoar é libertar-se do ódio, do orgulho, das mágoas, das expectativas, da prisão do medo e da insegurança. Tornar-se um adulto saudável requer a libertação da posição infantil, das memórias doloridas da criança. Caso contrário, o indivíduo ficará atado à história e demanda de outros da família, tornando-se prisioneiro do destino daquele excluído. Quem perdoa sente alívio, leveza na alma. Tem os caminhos abertos!
(Texto extraído do capítulo Violência intrafamiliar, do livro Transtornos Clínicos da Infância e da Adolescência)

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